Amanheceu mais um dia... Sinto saudades de casa. Do tempo em que a vida era normal. Eu tinha família... Eu podia acordar e pela manhã tomar o meu café junto com os meus.
Eu tinha animais domésticos... Gostava dos meus bichos. A alegria das crianças da casa, me alegrava também. Mas um dia, o ódio tomou conta do meu coração.
Na verdade, eu nem me lembro mais o motivo. Mas aquela raiz de amargura cresceu... E o mal me dominou. Eu, que era um cidadão pacato e tranquilo, aos poucos fui me tornando raivoso, e inclinado a fazer o mal... Mal que eu insisto em não fazer, mas uma força que eu não consigo dominar, parte de dentro de mim e me controla.
Perdi a minha casa. Perdi a minha família. Perdi tudo. Perdi até mesmo o meu nome. Agora me chamam de Monstro... O Monstro de Gadara. A cidade que me viu nascer, a cidade a qual eu era cidadão, agora me apelidou de O Endemoniado Gadareno... De cidadão, me tornei uma lenda. Uma figura folclórica. Me prendem, mas as forças malignas tomam o meu corpo, eu não consigo me controlar, e quando me vejo, já quebrei as correntes... Eu queria pedir auxílio, mas as pessoas olham pra mim com medo... Não consigo me aproximar de ninguém.
Eu estou com um cheiro horrível. Não tenho mais roupas. Tento falar, mas a minha voz não sai. Apenas gritos cavernosos e guturais que não pronunciam o que eu quero dizer... Sinto o meu corpo carregado... As minhas pernas não me obedecem... Ouvi dizerem, que estou possesso. Ouvi dizerem, que estou cheio de demônios... Por isso as pessoas se afastam.
Decidi morar no cemitério... Ali não encontro com ninguém. Ali, não vou ferir ninguém. Não machuco ninguém. Se pelo menos eu tivesse a sorte de morrer... Mas até a morte me abandonou. No meu corpo, eu carrego correntes. As correntes que eu arrebentei. Andando, elas fazem barulhos terríveis... Já não consigo mais ficar lúcido. O tempo todo, o mal me domina. Me jogo contra as pedras, tentando ferir a mim mesmo, para aproximar a minha morte, mas não adianta... Meu corpo dói demais...
Espera... Alguém se aproxima... Várias pessoas... Será que sãos os caçadores novamente? Será que fiz algo com alguém? Será que virão me prender novamente???
Mas... O que vem na frente deles, tem um aspecto diferente... Ele me olha diretamente nos olhos... Preciso ficar lúcido! Não posso deixar o mal me dominar de novo. Ele é diferente! Pela primeira vez depois de tanto tempo, alguém me olha com olhar de amor... Já sei quem é. Esse é Jesus, de quem falavam tanto. Só pode ser Ele. Ai... O mal novamente está se manifestando... Preciso ficar lúcido... Ainda me resta alguns minutos. As minhas forças estão acabando. O mal vai me dominar novamente e me levar para longe daqui, essa é a minha única chance de ficar livre disso. Como é que faço mesmo??? Isso... De joelhos... Vou adorá-lO... E deixar o restante com Ele... Senhor... (e novamente perdeu os sentidos)
Abro os olhos... Vejo os porcos. São muitos, e estão dizendo que espíritos malignos estavam em meu corpo,saíram e pediram para entrarem nos porcos??? Eles loucamente se atiram pelas pedras e se precipitam para o mar... Meu Deus... Isso iria acontecer comigo!!! Obrigado, Mestre!!!
Há muito tempo eu não sentia esse cheiro da natureza... Como é bom abraçar as pessoas, como é bom sentir o calor humano... O Olhar Dele é tão meigo, inspira confiança...
- Mestre, permita que eu vá contigo???
- Filho, você está há muito tempo longe de casa... Volte para os seus, e conte como Deus foi misericordioso contigo.
Hoje eu voltarei para casa. Não como o Monstro, não o Endemoniado, mas o homem, de Gadara.
Obrigado, Pai.
Abimael de Andrade - Min. de Louvor Nascidos para Adorar