Adorador...
Antes de vir ao mundo, quando os meus ossos ainda não eram formados, quando o meu corpo ainda era uma substância informe, eu já era adorador.
Cresci, e a vida me fez entender que sou adorador em qualquer momento, em qualquer circunstância. A adorar em Espírito e em Verdade.
Antes de ser músico, eu já era adorador.
Chegará um dia, em que minhas mãos perderão a agilidade, e trêmulas sem poder acompanhar um compasso, eu continuarei sendo adorador.
Chegará um dia, em que os meus lábios já frágeis, perderão a embocadura, e eu continuarei firme sendo adorador.
Chegará um dia, em que o meu corpo estará encurvado demasiadamente, e minhas costas com dores intensas, e minhas juntas, atacadas pelo reumatismo, não conseguirão segurar as baquetas, perderei a cordenação motora, mas continuarei sendo, adorador.
Chegará um dia, em que minha voz estará rouca, embargada, minhas cordas vocais não mais vibrarão produzindo sons. A tosse me consumirá, tomando o meu fôlego. Meus pulmões não puxarão a quantidade de ar que eu necessito, e meu diafragma já desgastado, não mais armazenará o ar... Ofegante, eu continuarei sendo, adorador.
Nesses dias, minhas mãos não escreverão mais. Minhas vistas, não permitirão mais que eu leia. Terei muito sono. Minhas pernas, não permitirão que eu caminhe. Meus ossos, estarão muito frágeis. Estarei retornando ao pó, de onde vim.
O Corpo, sucumbindo.
A Alma, salva.
O Espírito, eterno, adorador. Como foi a vida inteira. Porque aprendi, a adorar em Espírito. E em Verdade.
Abimael de Andrade
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